Por Claudia Bittencourt
Foto: Divulgação Lupe de Lupe |
Jonathan Tadeu. Foto: Cássio Marinho/Isso aqui é DF |
Com a agenda lotada pelos próximos meses, o quarteto mostrou a força de vontade do "faça você mesmo", atitude que deve permanecer marcante no cenário independente. "Nessa turnê, tocamos em lugares muito diferentes. Desde pubs até casas de pessoas", diz Vitor. Outra surpresa da turnê foi a presença do amigo Jonathan Tadeu, da recém extinta Quase Coadjuvante e que lançou seu novo álbum recentemente. Ele substituiu Renan no baixo e também cantou "Começar de Novo", de seu novo trabalho.
Lupe de Lupe lançou o
primeiro EP em 2011. Com sete músicas, "Recreio" chegou mostrando a
versatilidade da banda, capaz de reunir as músicas mais tristes e mais felizes
em um mesmo CD. As brasileiríssimas "Para Viver Um Grande Amor" e "Mar
Morto" remetem aos grandes compositores Vinícius de Moraes e Dorival
Caymmi e fazem contraponto com o som pesado de "Brejo Das Almas" e
"Guesa Errante". Enquanto isso "Carta para Minha Filha em
Prantos" e "Dom Casmurro" mostram a personalidade da banda por
meio de letras impactantes, complexas e bem trabalhadas, que casam com arranjos
marcados. "Me sento no recinto que há pouco me humilhou / Um pouco de
absinto e logo a dor passou / Pra quem tiver memórias de nós dois, que as
deixem pra depois / Que por hoje eu não intento me reabilitar, tão pouco
levantar", versos de Dom Casmurro.
Lupe de Lupe - Mar Morto
"Vem cá, porque criaste assim um amor tão profundo pra esconder no mar?"
Depois de
"Recreio", o lançamento do álbum "Sal Grosso" em 2012 veio
para consolidar a banda no cenário independente nacional. O disco trouxe
clássicos como "17", "Pavimento" e "Há Algo de Podre
no Reino de Minas Gerais". Nesse mesmo ano, o Vitor lançava seu primeiro
trabalho solo, a mixtape "Nosferatu".
Foto: Cássio Marinho/Isso aqui é DF |
O romantismo e a
sensibilidade diante do retrato das questões mais complexas da vida, presentes
em letras como "Enquanto Pensa no Futuro", "Às Vezes",
"Pequena" e "O Que Falta" reafirma o potencial que Lupe de
Lupe tem de fazer refletir, chorar e bater cabeça na faixa seguinte. Essa característica vital também fica clara no
show, especialmente na sequência do som mais pesado de "Reino dos
Mortos" para a ressentida “Fogo-Fatúo”.
Foto: Cássio Marinho/Isso aqui é DF |
"A nossa madrugada
Passou pelo nascente
E foi silenciosamente se tornando alvorada
E hoje eu ando me entregando
Aos braços dessas pessoas
Só pra ver, só pra ter certeza absoluta
Que eu ainda faço parte de você
E que você ainda faz parte de mim" - Fogo-Fátuo
Lupe de Lupe - Pavimento
A temática do sofrimento
também está presente no EP "Distância", de 2013, que vem em uma pegada
totalmente suja, barulhenta, hardcore. As diferenças de estilos
entre os discos ficam cada vez mais evidentes, mostrando a alta capacidade de
produção da banda. "Sempre nos esforçamos para criar coisas novas, lançar
materiais diferentes. O Sal Grosso foi um disco mais direto... Já no Recreio,
como era nosso primeiro CD, tínhamos vários coelhos na cartola", conta
Cícero.
Foto: Cássio Marinho/Isso aqui é DF |
O baterista explica que a
banda tem grandes compositores, cada um com um estilo diferente, e todos
contribuem muito para a produção das canções. "Às vezes a gente junta três música em uma,
mas estamos sempre pensando em não fazer a mesma coisa. Cada disco reflete o
momento que a banda está vivendo".
Para Vitor, a banda está
amadurecendo e agora, com o duplo Quarup, entram em uma fase mais experimental.
"O futuro é feminino / Minha presidente é uma mulher / Meu coração é
brasileiro (...) Minha mãe foi mãe solteira / Há muito tempo me ensinou / Meus
pés e mãos são brasileiras", assim começa a primeira parte do disco, com a
otimista "O Futuro é Feminino".
Com os versos "Faz tempo que eu não vejo você / Essa saudade dói mais que beber mercúrio / Te lembra aquele abraço que dei / Meus braços se entregaram e pensei do orgulho / Que tenho quando beijo você / Me arrepio todo ao perceber / Que eu queria mais tempo", a afetuosa "Gaúcha" nos faz lembrar daquele amor recém descoberto e talvez perdido.
Com os versos "Faz tempo que eu não vejo você / Essa saudade dói mais que beber mercúrio / Te lembra aquele abraço que dei / Meus braços se entregaram e pensei do orgulho / Que tenho quando beijo você / Me arrepio todo ao perceber / Que eu queria mais tempo", a afetuosa "Gaúcha" nos faz lembrar daquele amor recém descoberto e talvez perdido.
Lupe de Lupe - Gaúcha
Lupe de Lupe - Colgate
A tranquilidade e o
romantismo se mantém até a 11ª faixa, na instrumental PKA Prefácio. Depois
disso, sexo, prazer, drogas, crimes e arrependimento fazem parte de músicas como a pesada "Minha Cidade em
Ruínas". A marcante "Eu Já Venci" remete ao caos político e
social que o país vive, em uma perspectiva individual.
Foto: Cássio Marinho/Isso aqui é DF |
"E então o saulim foi preso por traficar
/ Quando ele saiu eu vi que nos seus olhos restava pouco de perdão Pouco de
amor, pouco de ilusão / Minha cidade está em ruínas / E não é uma música que
vai fazer tudo isso mudar" - Minha Cidade em Ruínas.
E a Lupe tem material novo... só na cabeça! Mas isso já é um bom sinal. "Se a gente pensa em alguma coisa, gravamos logo, não ficamos esperando, pensando demais".
Jonathan também está com
material novo, previsto para ser lançado ano que vem. Depois do fim da Quase
Coadjuvante, ele lançou o intimista "Casa Vazia", disco recheados de
conversas entre amigos e confissões. "O próximo álbum será mais
rock", conta.
GERAÇÃO PERDIDA
Tanto Lupe de Lupe quanto
Jonathan Tadeu fazem parte do movimento Geração Perdida de Minas Gerais, que
tem como objetivo unir músicos e outros artistas para promover a produção
cultural local. Assim, os participantes do grupo se apoiam, ajudando os amigos
e colegas e produzir e divulgar seus trabalhos. Um exemplo disso é o álbum "Perdida",
da tatuadora, artista plástica, videomaker
e compositora Paola Rodrigues, produzido por Vitor Brauer. Anteriormente, ela dirigiu
o clipe de "Os Dias Morrem" e o curta documentário "Geração Perdida em
SP". Outra banda representativa para o Geração Perdida é a Young Lights, sendo que álbum "Cities" também foi produzido por
Vitor. Para conhecer o trabalho de todos os artistas do coletivo, acesse: http://geracaoperdida.bandcamp.com/.
Curta documentário - Geração Perdida em SP
Confira o setlist do show
em Brasília:
SETLIST:
SP (Pais Solteiros)
Enquanto pensa no futuro
Pavimento
Começar de novo (Jonathan Tadeu)
Homem
RJ (Moreninha)
Reino dos mortos
Fogo-Fatúo
Gaúcha - sem Renan, substituído pelo
Cícero
Há algo de podre no reino de Minas
Gerais
Pequena
Eu já venci
17
Para conhecer o trabalho
de Jonathan Tadeu, acesse: https://jonathantadeu.bandcamp.com/ .